Nossa Vida

A vocação à nossa vida

A vida trapista é vida monástica contemplativa. “Escola de caridade”, na expressão mais querida aos Padres da nossa Ordem, é busca absoluta do Rosto de Deus e da comunhão entre irmãs, por sobre todo outro fim.

Não é uma vida eremítica, como a mais conhecida do Carmelo, ao menos no Brasil, uma vida sobretudo de cela, de trabalho e oração em solidão. A nossa é vida cenobítica, quer dizer comunitária em todos seus aspectos. Melhor, poderíamos dizer que os nossos Padres Fundadores quiseram juntar as vantagens da vida cenobítica e eremítica em um só estilo de vida, então: vida fraterna e silencio juntos fazem o tecido de nossos dias, na oração do Ofício divino, na lectio e oração pessoal, no estudo, no trabalho manual.

Na nossa jornada, oferecida, em união ao sacrifício de Cristo, pela salvação do mundo inteiro, a Missa diária e o oficio divino cantado 7 vezes no dia, no coro da igreja, são a coluna vertebral da vida.


Para nós, rezar não é meditar sobre algum tema, partindo de um livro, como ensinam outras espiritualidades. Rezar é saber quem é Deus para nós, como sentimos sua Presença na nossa vida, se o amamos verdadeiramente, se temos confiança Nele ou temos medo… Rezar é conversar com Ele, simplesmente, em total liberdade, como pequenos falando com o seu pai. Se temos dificuldades com a figura do pai, podemos começar conversando com Jesus, com Maria, expor para Eles tudo, todos nossos sentimentos, perguntas, desejos, na entrega total do nosso ser.


As horas da madrugada, depois da oração do Oficio de Vigílias, e antes da celebração da Eucaristia, são as mais queridas do dia, na leitura orante da Palavra de Deus e a oração silenciosa diante do Sacrário, esperando o nascer do sol, como na vigília da noite pascal esperamos a Ressurreição de Cristo.

Com o trabalho de nossas mãos nos ganhamos a vida, em comunhão com todos os operários da terra. O trabalho manual, aspecto fundamental de nosso voto de pobreza, é escola eminente de comunhão fraterna e crescimento humano.

Temos 5 horas de trabalho manual diário. Para as jovens em formação são 4 horas e uma de aulas ou estudo ou dialogo, no noviciado. Além de todos os trabalhos da casa, uma pequena fabrica de chocolates, junto com geleias e vários produtos de artesanato, estão pensados para o sustento da comunidade.

O conhecimento de si mesmo, com a ajuda do acompanhamento espiritual da mestra de noviças, mestra de junioras, e da madre, é fundamental no conhecimento da própria verdade e pobreza existencial, para encontrar a riqueza da misericórdia e do amor do Senhor. Quem sabe poderíamos dizer, que sem perder de vista um só instante a nossa verdade humana, desejamos ser a consciência do mundo, diante do rosto do Senhor.


A nossa vida é tremendamente simples e humana, essencial em todos seus aspetos, desde a comida sem carne, até a beleza austera dos edifícios. Absoluta, na sua busca de Deus. Não é uma vida fácil, mas é uma vida tremendamente feliz, que nos faz libres e plenamente mulheres, na entrega de tudo o que somos para Deus e a Igreja.


Quem sabe seja bom acrescentar aqui que para descobrir verdadeiramente a nossa vocação, nós que cremos que é Deus que vai traçando amorosamente uma vida e um caminho para cada um de nós, precisamos escutar Deus profundamente no nosso coração, pela oração cordial e pela Leitura da Sagrada Escritura. Descobrir o desejo mais profundo do nosso coração, o que nos é indispensável para viver, o que só pode fazer-nos felizes, é descobrir, ao mesmo tempo, a vontade de Deus na nossa vida, a nossa vocação, a nossa missão na Igreja.


Finalmente, cabe dizer que a vida Trapista não é o silencio ou a separação do mundo, ou todas suas outras práticas, embora sejam todas muito necessárias, mas uma vida coração a coração com Deus, na qual Ele é o único amor. Precisa cultivar esse amor, entregar-se plenamente a esse amor.

Nossa Senhora da Boa Vista

O mosteiro é a imagem do mistério da Igreja. Nele nada se antepõe ao louvor da glória do Pai e se emprega o máximo esforço para que toda a vida comunitária sirva de tal modo à suprema lei do Evangelho que a comunidade não seja privada de nenhum dom espiritual. As monjas se empenham por estar em sintonia com todo o povo de Deus e participar da sua operosa expectativa de unidade de todos os cristãos. Pois, por sua vida monástica fielmente vivida e pela misteriosa fecundidade apostólica que lhes é própria, servem ao povo de Deus e a todo o gênero humano. Cada Igreja da Ordem e cada monja são consagradas à Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe e Modelo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo. (Constituições da Ordem)